terça-feira, 10 de julho de 2012
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DO SINAI AO CALVÁRIO
Extraído de:
Helmut H. Kramer, Os adventistas da reforma, Tatuí, SP: CPB, 1998.
O autor nasceu, crescer e serviu por 20 anos no Movimento de Reforma, como colportor-evangelista, pastor e administrador.
“Nasci em um lar cristão onde se enfatizava a estrita obediência a Deus e Sua
Palavra. A penalidade da desobediência era claramente retratada, como era a
recompensa da obediência. Pareço lembrar-me mais da ênfase sobre a justiça de Deus
do que do amor que Ele manifestou para com os filhos dos homens. Fui levado a
considerar a Deus o Pai como um juiz severo - a imagem do pai severo - e Jesus
como a imagem da mãe condescendente, aquela que protege o filho contra a
austeridade excessiva do Pai.
Meu propósito, ao escrever, é retratar o que me transformou de um ardoroso
membro e obreiro do Movimento da Reforma em um membro e obreiro da Igreja
Adventista do Sétimo Dia (IASD). Aqueles que me conheceram não podem
questionar o fato de que antes de 1982 eu era um crente tão firme na autenticidade do
Movimento da Reforma como ninguém poderia ser.
O lar de meus pais era muito exclusivo, não em opulência, mas na opinião de
que éramos o povo escolhido de Deus. Todos os estranhos eram considerados agentes
de Satanás. Nós, filhos, éramos proibidos de nos associar com outros jovens a fim de
evitar que eles, como filhos do Maligno, nos contaminassem.
Sendo que nossa igreja não tinha escolas, eu freqüentava a escola pública,
juntamente com um irmão e três irmãs. Não tínhamos permissão de participar em
nenhuma atividade extra-classe. Nem nos engajávamos nos programas de Educação
Física dentro da escola. Os últimos envolviam competição que meu pai acreditava
firmemente serem pecaminosas e proibidas pelo Senhor.
Conseqüentemente, lembro-me de ter-me sentido um estranho entre meus
iguais. Em nenhuma ocasião tive amigos íntimos, nem mesmo nos anos da escola
secundária. Eu tinha medo de me associar com outros, porque, afinal, isto era “nós e
eles” - o povo de Deus em oposição aos filhos do diabo. O lema, o slogan era sempre:
“separai-vos”, do jeito que o povo judeu mantinha-se afastado dos “gentios” que os
rodeavam.
Com a idade aproximada de 13 anos, fui batizado na igreja de meus pais, a
Adventista do Sétimo Dia do Movimento de Reforma (da Sociedade Missionária
Internacional - SMI). Não havia nenhuma dúvida em minha mente de que esta igreja
era o único e verdadeiro povo de Deus. Eu deveria fazer parte deste movimento se
quisesse ser salvo. Isto havia sido implantado firmemente em minha memória desde a
infância. Eu tinha uma compreensão razoavelmente boa das doutrinas da igreja, mas
ao olhar para trás, indago se eu conhecia realmente o nosso amoroso Senhor como
deveria ter conhecido. Tal relacionamento não era considerado de maior prioridade
para a aceitação como membro da igreja do que a compreensão doutrinal.
Eu tinha apenas 11 anos quanto testemunhei os primórdios de um terrível
conflito entre duas facções do Movimento da Reforma. Por um lado, estava a União
Americana, lutando para evitar a dominação total da Associação Geral (SMI) da
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Alemanha. Por outro lado, estava o dirigente que fora enviado pela Associação Geral
para forçar a União a submeter-se à sua vontade. Observei de perto este conflito,
sendo que meu pai era ministro e oficial da Associação do Movimento de Reforma.
Como resultado deste conflito, vi um número considerável de membros deixar
o Movimento e entrar na IASD. Outros renunciaram totalmente a sua fé. A batalha
entre os reformistas esgotou o tesouro da União e absorveu até mesmo um fundo
especial que fora reunido para iniciar a obra de Saúde nos Estados Unidos. Todos os
recursos da igreja foram consumidos na luta uns com os outros, ao invés de dar a
última mensagem de advertência ao mundo ou expandir a obra em outros países.
A luta entre essas duas facções atingiu o auge em 1951, quando o Movimento
de Reforma se dividiu. D. Nicolici, com um grupo de partidários, estabeleceu sua
própria Associação Geral (’51) e começou a batalhar contra o Movimento original
(SMI). Agora havia duas Associações Gerais do Movimento de Reforma. Cada uma
declarava que a outra estava em rebelião e se excomungaram mutuamente. Cada uma
acusava a outra de tentar mudar os “Princípios” do Movimento.
Esta luta tem continuado desde aquele dia até o presente. Quando quer que
uma facção estabeleça um grupo de crentes, a outra procura ganhar os novos
membros para si mesma.
Enquanto a SMI tentava combater estas batalhas baseada nos fatos da situação,
a outra facção (’51) distribuía documentos de acusação contra nossos líderes.
Repetidas vezes, quando jovem, fui forçado a testemunhar uma batalha carnal que
estava sendo levada a efeito por pessoas que faziam uma alta profissão de piedade,
mas que estavam apenas lutando para sua própria glória e honra. Com muita
freqüência, testemunhei mentiras sendo perpetradas pela facção oposta, a fim de
confundir pessoas simples, levando-as a apoiar sua organização e liderança.
Desde a mais tenra infância, eu havia sido doutrinado a crer que o Movimento
da Reforma era totalmente correto, e que a IASD era uma organização totalmente
apostatada. Sempre que ocorria algo que abalasse a confiança de uma pessoa (tal
como a contenda pela liderança, que resultou no cisma de 1951), diziam-lhe que isto
era prova de que o Movimento deveria ser de Deus. Se ele não fosse obra de Deus,
Satanás não tentaria destruí-lo tão implacavelmente.
Posteriormente, vim a perceber que tais batalhas pela supremacia não eram
novas no Movimento. Era um fato natural desde o próprio início. As lutas eram
ocultas do povo, exceto onde isto se tornava impossível, como as que ocorreram
durante os anos de 1948-1952.
Estando intimamente associado com a obra, porque meu pai era um ministro no
Movimento, eu não era totalmente ignorante quanto ao que estava ocorrendo. Ao
mesmo tempo, expressar dúvidas a respeito da direção que o Movimento estava
seguindo era considerado pecaminoso. Isto implicava em duvidar de que o Senhor
estava dirigindo. Afinal, sendo que a IASD era considerada uma “igreja caída”, para
onde mais poderia alguém ir, senão para o Movimento?
Como crianças, éramos ensinados a olhar com suspeito para tudo o que era
feito pelos líderes e o povo da “igreja-mãe”. Tudo que eles faziam e escreviam,
deveria estar distorcido. Não tinham eles tomado o lado de Satanás, subvertendo a
posição original dos pioneiros? Finalmente, descobri que nem mesmo conhecíamos a
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posição original dos pioneiros. Na realidade, os reformistas, consciente ou
inconscientemente, estavam tentando reescrever a história Adventista para se ajustar
às suas próprias idéias de como “deveria” ela ter sido.
Meu Serviço no Movimento da Reforma
Depois de concluir a escola secundária e trabalhar por alguns anos como
desenhista arquitetônico, senti o chamado do Senhor para ingressar no serviço
missionário. Eu estava convencido de que a vinda do Senhor não poderia estar muito
longe. Ao ver a pequenez do Movimento da Reforma e perceber quanta obra
precisava ser feita para advertir o mundo que ainda jazia em trevas, vi a necessidade
de fazer minha parte, a fim de apresentar a vinda do Senhor.
A princípio, comecei a trabalhar à base do meio expediente, como colportor
evangelista. Sendo que a única escola missionária que o Movimento tinha estava na
Alemanha (com instrução somente em alemão), obtive meu preparo na escola da
experiência - através da colportagem e dando estudos bíblicos. Além disso, obtive
algum preparo trabalhando no campo com obreiros mais experientes. Depois,
comecei a trabalhar em regime de tempo integral no esforço missionário. A União
Americana instituiu seminários a fim de prover preparo adicional para seus obreiros.
Minha esposa e eu casamos em 1962, e começamos a trabalhar junto a fim de
ganhar almas para o Senhor, ou para a igreja (na mentalidade dos reformistas os dois
são sinônimos). Adquirimos perícia em dar estudos bíblicos sobre assuntos
doutrinários. Mas nunca fomos ensinados a levar uma alma ao pé da cruz. Como
resultado, ganhamos muito poucas pessoas. Subseqüentemente a esses labores,
respondemos a um chamado para fazer serviço missionário de tempo integral em
Richmond, Virgínia (EUA). Ali, em grande parte, começou a sério minha
peregrinação.
Ao trabalhar de porta em porta, freqüentemente me deparava com a pergunta
feita por alguns daqueles queridos Batistas do Sul: “Você está salvo?” Para eles esta
era uma pergunta importante. Contudo, eu não podia dar uma resposta clara e
honesta. Minha resposta íntima era: “Espero que sim”; ou: “Se for fiel, estarei”; ou:
“Estou trabalhando neste sentido”. Dentro do meu coração, eu sabia que tal resposta
não seria aceitável para essas pessoas sinceras, nem eram tais respostas aceitáveis
para mim mesmo. Este dilema me levou às Escrituras e ao Espírito de Profecia em
busca de respostas. Ao estudar, começou a raiar em minha mente obscurecida que,
enquanto eu não aceitasse a opinião batista (“uma vez salvo, salvo para sempre”),
também não poderia e não deveria ter hoje a certeza da salvação como filho de Deus.
Passo a passo, através de muito estudo e da orientação do Senhor, o processo
foi adiante em minha vida. Enquanto trabalhava com a Igreja da Reforma local em
Richmond, fui capaz de experimentar de primeira mão os terríveis resultados do
legalismo. Membros que eu sabia que nem por um esforço da imaginação estavam
vivendo a vida cristã, eram muito fortes em obedecer à letra da lei e em condenar
aqueles que não viam as coisas como eles.
Depois de ser ordenado ao ministério, fui transferido para o Canadá, a fim de
tomar conta de um distrito de 3 igrejas. Ali encontrei os membros divididos por
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opiniões legalistas. Às vezes, eu era obrigado a me assentar em reuniões de comissão
até às 2:00 horas da manhã, ouvindo acusações contra os membros da igreja e
pedidos de punição. Por exemplo, um membro que estourasse pipoca sábado à tarde,
deveria ser punido. Dever-se-ia permitir aos membros ter um aparelho de televisão?
Estava o cabelo da pianista suficientemente comprido? Deveria ela ser afastada da
função por ter mandado cortar o cabelo? Comecei a ver a verdadeira calamidade do
legalismo. Vi igrejas e famílias separadas por atitudes não cristãs, tudo em nome de
fazer a “vontade de Deus”. Isto intensificou o meu desejo de algo melhor.
Neste ínterim, continuei a cumprir minha tarefa tão bem quando podia. Isto me
levou a visitar uma reunião de oração da IASD a fim de encontrar pessoas que eu
pudesse interessar no Movimento da Reforma. Não obtive nenhum converso com este
método, mas vi muitas coisas a respeito da IASD, que comecei a admirar. Em uma
igreja o pastor dirigia classes de testemunhos, nas quais aprendi a levar a mensagem
de salvação ao povo mais eficientemente. Ao empregar estes princípios, meu
ministério começou lentamente a produzir fruto, e almas foram ganhas para Cristo
bem como para a igreja.
Em meu estudo, cheguei a obter concepções mais claras da mensagem de
justificação pela fé, conforme foram apresentadas pelos irmãos Jones e Waggoner à
IASD em 1888. Mas minha doutrinação passada nos ensinamentos da Reforma
predispôs-me a crer que esta maravilhosa mensagem tinha sido rejeitada pela IASD.
Eis por que, como eu tinha sido ensinado, havia necessidade do Movimento da
Reforma.
Às vezes eu tinha algumas dúvidas quanto à realidade dessa “rejeição”.
Parecia-me que a mensagem estava sendo proclamada mais claramente pela IASD do
que pelo Movimento. Em minha mente ainda não havia nenhuma dúvida de que o
Movimento da Reforma compreendia o povo de Deus. Cumprindo meu “dever” como
bom reformista, eu procurava todo sinal de apostasia em meus contatos com a
“igreja-mãe”. Quando testemunhava problemas no Movimento, isto apenas
confirmava minha convicção de que este deveria ser o povo de Deus, ou senão
Satanás não estaria tão irado e tentando nos destruir. Apenas vagamente entrava em
minha cabeça o pensamento de que talvez estivéssemos construindo sobre um
fundamento arenoso de divagações humanas.
Enquanto trabalhava no Canadá e na parte oriental dos EUA, tive de batalhar
repetidamente contra os obreiros da facção rebelde (’51). Em uma ocasião, achei
necessário passar vários dias em Boston e em Nova Iorque debatendo com alguns dos
seus dirigentes, porque eles estavam tentando assumir a direção dos membros do
nosso grupo.
Embora percebesse que os líderes do grupo que eu representava não eram
perfeitos, a força do meu argumento era que ao menos eles não tentavam enganar o
povo. Testemunhei repetidas vezes a terrível propensão dos dirigentes desse grupo
rebelde para mentir e torcer os fatos a fim de tentar vencer uma discussão, um debate.
Até aquele tempo, eu nunca havia testemunhado a mesma fraqueza nos líderes do
nosso grupo. Isto logo deveria mudar.
Enquanto trabalhava na Califórnia, durante os anos de 1975 a 1977, ajudei a
fundar um novo grupo, que posteriormente se organizou em igreja. Então, em 1977,
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aceitei um chamado para servir como presidente da União Americana (SMI) em
Denver, Colorado. No ano seguinte (1978), fui eleito para servir também como
presidente da Divisão Norte-Americana (SMI). Estas pesadas responsabilidades me
afastavam da minha família por extensos períodos. Minha esposa assumiu o fardo
extra de educar nossos dois filhos adolescentes na ausência de um esposo/pai,
enquanto também trabalhava em regime de tempo integral na obra de publicações.
Os novos desafios, contudo, eram estimulantes, e eu colocava toda a minha
energia em transformar esses campos em entidades reais. No início, os líderes da
Associação Geral (SMI) me informaram que esses campos eram “campos enfermos”
que necessitavam ser completamente reorganizados. Descobri que a enfermidade era
muito mais do que superficial ou simplesmente organizacional.
Todo o Movimento de Reforma (SMI) no México e na América Central estava
dilacerado pelo legalismo e pela corrupção. As almas não estavam sendo cuidadas
por amorosos pastores, mas eram forçadas à submissão por miniditadores que com
elas não se preocupavam. Os dirigentes mantinham as propriedades da igreja em seu
próprio nome, e, em alguns casos, viviam como reis, enquanto os membros viviam na
pobreza. Membros eram excluídos ou disciplinados por nenhum motivo maior do que
iniciar uma obra de saúde como esforço leigo, sem a permissão do dirigente da igreja.
Trabalhei arduamente para deter a maré de corrupção nessas regiões, apenas
para descobrir posteriormente que coisas idênticas estavam sendo feitas em nível de
Associação Geral. Como membro da Comissão da AG, logo descobri que os fundos
do dízimo estavam sendo utilizados para outros propósitos que não aquele que a
mensageira do Senhor declarou. Em vez de prover sustento para obreiros
missionários, o dízimo estava sendo usado para a compra de propriedades em várias
partes do mundo. Tudo isto estava ocorrendo sem a aprovação, ou mesmo o
conhecimento, da Comissão da Associação Geral.
As ofertas arrecadadas para propósitos especiais não eram distribuídas para
aqueles declarados propósitos, mas eram despendidas segundo os caprichos do
presidente e do tesoureiro. A fim de obter qualquer fundo previamente fixado para
um projeto em determinada área, era necessário gozar das suas boas graças.
Desaprovei tal atitude, e declarei que os membros não concordariam com esta
prática de desviar fundos do propósito para o qual foram doados. Fui informado de
que os membros não tinham o direito de saber como os fundos estavam sendo gastos.
Pela primeira vez, tive a experiência de ver meus próprios dirigentes e coobreiros
proprositalmente engendrando falsidades. Isto me desiludiu grandemente, e
começaram a vir à tona dúvidas quanto à genuinidade do Movimento.
Logo ficou claro que o objetivo dos dirigentes da Associação Geral (SMI) era
suplantar os miniditadores locais do campo mundial com sua própria autoridade.
Exigiram, por exemplo, que cada propriedade da igreja na América Central fosse
transferida por meio de escritura para a AG (SMI), sendo o presidente e o tesoureiro
administradores efetivos. Descobri que isto já tinha sido feito na América do Sul e em
Porto Rico.
Como presidente da Divisão, resisti a tais mudanças. Eu estava convencido de
que na eventualidade de uma insurreição comunista em qualquer desses países, as
primeiras propriedades a serem confiscadas seriam aquelas possuídas por
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organizações estrangeiras. A Comissão da União da América Central concordou
plenamente com esta minha posição e recusou se render àquelas exigências
inconvenientes e arbitrárias.
Posteriormente, quando a União Americana, com o estímulo da AG (SMI),
comprou terra para estabelecer a obra de saúde nos EUA, o auxílio financeiro, que
antes havia sido prometido, tornou-se então dependente dessa propriedade que estava
sendo transferida para a AG. Esta situação fez-me ciente da trilha perigosa que a
direção do Movimento da Reforma estava palmilhando ao estabelecer “poder real”
contra o que Ellen White havia advertido tão fortemente.
Ao voltar para o Espírito de Profecia em busca de iluminação, algumas
declarações muito salientes mostravam que uma situação semelhante ocorrera anos
antes na IASD. A serva do Senhor tinha falado claramente em oposição a tal situação
(veja em Testemunhos para Ministros, pág. 324).
Diferenças Doutrinárias
Foi somente depois que fui eleito para servir como presidente da Divisão
Norte-Americana e como membro da Comissão da AG, que comecei a ver sérios
problemas na organização do Movimento de Reforma. Primeiramente, comecei a ver
diferenças doutrinárias entre o que eu havia aprendido dos líderes da Reforma na
América (e o meu próprio estudo da Bíblia e dos Testemunhos) e o que era ensinado
pelos líderes europeus. Muito rapidamente comecei a notar a desonestidade de alguns
líderes na administração diária da organização. Isto me levou a indagar se o engano
era praticado também em outras regiões.
Durante muitos anos eu havia percebido que o Movimento tinha problemas
com o livreto “Princípios” que estabelece as “Crenças Fundamentais” do Movimento
de Reforma. A maioria dos obreiros e muitos membros percebiam que existiam
assuntos no livreto que não concordavam com as claras afirmações da Bíblia e dos
escritos da profetisa de Deus. Mesmo assim, todos tinham medo de corrigir este
livreto, pelo temor de que o Movimento de Reforma oposto (a facção de 1951) usasse
tais mudanças em proveito próprio. Seus dirigentes seriam então capazes de afirmar
que tínhamos mudado, de sorte que eles poderiam pretender ser o movimento
original, aqueles que se apegavam às crenças fundamentais do Movimento de
Reforma.
Apesar desse temor, os delegados da AG (SMI), em 1978, votaram reescrever
o livreto. Quando, entretanto, a Comissão da AG tentou iniciar a obra, logo se tornou
evidente que qualquer correção ou mudança seria impossível. Ao ponderar este
impasse, voltei-me novamente para a Bíblia, e especialmente para o Espírito de
Profecia, para ver o que a serva do Senhor tinha a dizer em tais assuntos.
Fiz em meu coração a pergunta: “Senhor, como chegamos a este beco sem
saída, em que sabemos que nossa declaração fundamental de fé é incorreta, e,
contudo, não somos capazes de mudá-la?” O que encontrei no Espírito de Profecia
deixou-me sobressaltado. Antes desse tempo, eu jamais questionei a necessidade de
nossa declaração doutrinária. Subitamente, percebi que o Movimento de Reforma,
que amava profundamente, havia caído em uma armadilha de Satanás, estabelecendo
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um credo imóvel, inalterável. Um “assim diz o Senhor” tinha sido substituído por um
“assim diz a igreja”, em oposição direta à instrução do Senhor. As seguintes
declarações me fizeram dar uma segunda olhada para o que anteriormente me haviam
ensinado:
“Muitos hoje se apegam de modo idêntico aos costumes e tradições de seus
pais. Quando o Senhor lhes envia mais luz, recusam-se a aceitá-la porque, não
havendo ela sido concedida a seus pais, não foi por estes acolhida. Não estamos
colocados onde nossos pais se achavam; conseqüentemente nossos deveres e
responsabilidades não são os mesmos. Não seremos aprovados por Deus olhando
para o exemplo de nossos pais a fim de determinar nosso dever, em vez de pesquisar
por nós mesmos a Palavra da verdade. Nossa responsabilidade é maior do que foi a
de nossos antepassados. Somos responsáveis pela luz que receberam, e que nos foi
entregue como herança; somos também responsáveis pela luz adicional que hoje, da
Palavra de Deus, está a brilhar sobre nós” - Grande Conflito, 164.
“Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só,
como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de
homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios
eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a
voz da maioria - nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam
considerar-se como prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes
de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro -
‘Assim diz o Senhor’” - idem, 595.
A Igreja Romana defende o conceito de que a igreja tem o direito de
determinar a doutrina, a despeito do que a Palavra de Deus possa dizer. Em oposição
a este ponto de vista, está a insistência protestante de que toda doutrina deve estar
baseada na Bíblia e nela somente. Cheguei à percepção de que o Movimento de
Reforma se apega à opinião católica deste assunto, em vez de defender a opinião
protestante.
O Movimento ensina que a igreja tem autoridade para promulgar legislação
religiosa, apesar das claras afirmações em contrário, feitas pela Bíblia e o Espírito de
Profecia. Por exemplo, o Movimento de Reforma fez do assunto do vegetarianismo
uma prova de comunhão, a despeito da clara afirmação da Pena Inspirada de que tal
posição não deveria ser tomada: “Não devemos fazer do uso de alimento cárneo uma
prova de comunhão” - Cons. Regime Alimentar, 404. Os reformistas desculpam sua
posição, afirmando que a luz progrediu, chegando ao ponto em que a declaração
precedente não é mais aplicável. Embora os reformistas dificilmente queiram admitir,
suas atitudes em relação à autoridade da igreja são mais católicas do que protestantes.
Comecei a perceber que o Movimento da Reforma estava cheio de muitas
normas forjadas pelo homem. A Palavra de Deus toma o segundo lugar para um
“assim diz a igreja”. Quando comecei a entender este fato, percebi que algo estava
essencialmente errado com o Movimento que eu amava e ao qual tinha dado 20 anos
da minha vida.
Uma noite, assisti a uma reunião evangelística em uma igreja adventista perto
da minha casa, no Colorado. Foi exibido o filme “Enganados”. Esse filme documenta
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a história de Jim Jones e Jonestown. Ele me levou a uma profunda e sóbria reflexão.
Ressaltava que quando a princípio o “Templo do Povo” começou, parecia ser um
lugar onde o amor de Cristo irradiava. Os membros se empenharam em uma grande
obra a fim de estender a mão em assistência aos seus semelhantes. As pessoas eram
atraídas para essa igreja por causa da comunhão e das bênçãos que recebiam.
Todavia, a situação mudava à medida que Jim Jones gradualmente se tornava
um ditador sobre o povo. Agora, conhecemos o resultado final dessa lavagem
cerebral. Os noticiários revelaram o horror quando centenas de pessoas cegamente
seguiram seu líder para a morte. Ao ver esse filme, veio-me a assustadora percepção
de que muitas situações semelhantes estavam ocorrendo na igreja que era a minha
vida. Poderia ser que minha igreja, iniciada por uma boa causa, tivesse se desviado
dos seus objetivos e estivesse seguindo uma direção semelhante à do “Templo do
Povo”? Esta experiência me levou a procurar saber o que o Senhor desejava
realmente que Sua igreja fosse.
Por volta do mesmo tempo, o Senhor colocou em minhas mãos vários livros
que despertaram ainda mais o meu pensamento. Em 1981, os Adventistas publicaram
o Early Elmshaven Years (“Primeiros Anos em Elmshaven” - vol. 5 em uma
biografia de 6 volumes de Ellen White). Ao ler esse livro, recapitulei as experiências
pelas quais a IASD havia passado naqueles dias. Percebi que o Movimento da
Reforma tinha em seu meio os mesmos problemas contra os quais Ellen White havia
falado tão veementemente. Um dia, enquanto visitava a Califórnia, entrei por
curiosidade no Adventist Book Center e me deparei com um livro sobre a história
Adventista, Light Bearers to the Remnant (“Portadores de Luz para os
Remanescentes”), de R. W. Schwarz. Comprei este livro com a intenção de usar o
material nele contido contra a IASD. Ele documentava muitas coisas das quais eu
nunca dantes havia tomado conhecimento.
Em outra ocasião, enquanto visitava parentes em Berrien Springs, Michigan,
comprei outro livro que documentava a falácia da idéia de que a mensagem da
justificação pela fé tinha sido rejeitada pela IASD em 1888. Este livro, Thirteen
Crisis Years (“Treze Anos de Crise”), do Pr. A. V. Olson, revela o fato de que
embora muitos dos principais homens no início rejeitassem a mensagem,
posteriormente se arrependeram e a aceitaram. Adicionalmente, o fato é que a igreja
não tomou qualquer medida oficial sobre este assunto em 1888.
Eu vi agora que a pretensão do Movimento da Reforma - de que esta
mensagem enviada pelo Céu foi rejeitada, e como resultado nasceu o Movimento da
Reforma - era falsa. Assim, sua reivindicação de ser representada pelo anjo do
Apocalipse 18 não poderia ter nenhuma base nos fatos. Verifiquei que realmente
eram os reformistas os que se estavam apegando aos ensinos e atitudes que tinham
produzido a necessidade dessa mensagem. Eles mesmos nunca haviam aceitado a
mensagem; sequer a compreendiam.
Ao começar a compreender estas novas idéias, senti que era meu dever
partilhar este conhecimento com meus companheiros de fé. Era evidente que
havíamos seguido um caminho falso. Era meu desejo ajudar o povo a ver que
necessitava de correção para que pudéssemos colocar-nos na posição em que o
Senhor desejava que estivéssemos.
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Tentei mudar a direção do movimento, apelando para os membros da
Comissão da Associação Geral, mas sem sucesso. Eu escrevia e falava sem rodeios
contra as muitas posições errôneas defendidas pelo movimento, que o meu estudo do
Espírito de Profecia tinha revelado. Finalmente, contudo, fui forçado a verificar que,
para ser fiel à Bíblia e aos Testemunhos, eu deveria separar-me desse falso
movimento.
Tinha havido muita controvérsia entre mim e os dirigentes da AG da Reforma
(SMI), especialmente quanto ao uso do dinheiro. Em primeiro lugar, a direção achava
que o povo não tinha nenhum direito de saber como os dízimos e ofertas estavam
sendo usados. Segundo, eles esperavam que o meu salário e as despesas de viagem
para todas as partes da Divisão Norte-Americana fossem pagos pela União
Americana. Ao mesmo tempo, estavam coletando fundos de todas as partes da
Divisão e não os repassavam para aquela Divisão. Eu não tinha nenhum orçamento
para operações, até que pressionei ao máximo os dirigentes da AG. Foi então votado
que eu receberia tal orçamento, mas ele nunca chegou.
Como a gota d’água, a última coisa tolerável, eles permitiram que os antigos
dirigentes no México retomassem a direção da União, depois de os delegados terem
votado o seu afastamento e anulado suas credenciais. Isto foi feito apesar do fato de
que a própria direção da AG tinha anteriormente declarado que esses homens era
corruptos, e não eram mais dignos de qualquer cargo na igreja. Como resultado,
renunciei à presidência da Divisão no final de dezembro de 1981, mas continuei
como presidente da União Americana.
Sendo que a direção da AG (SMI) agora percebia que eu não era um lacaio,
estava decidida a se livrar de mim. Em resposta a uma carta que eu tinha escrito ao
presidente da AG, recebi dele um curto bilhete que, entre outras coisas, simplesmente
citava um texto bíblico: “O homem, pois que se houver soberbamente, não dando
ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse
morrerá: e eliminarás o mal de Israel” (Deut. 17:12).
Na primavera de 1982, escrevi um pequeno livreto, Our Comission, em que eu
salientava alguns dos problemas que eu via no Movimento da Reforma. Esse livreto
era composto principalmente de declarações da Pena Inspirada. Ao escrevê-lo,
percebia muito bem que alguns não gostariam do que era exposto. Antes da
publicação, o manuscrito foi lido por quase todos os membros da Comissão de
Literatura da União Americana. Eles concordaram com sua impressão, não como uma
publicação oficial da igreja, mas simplesmente como proveniente de mim, um líder
da igreja.
O livreto despertou a ira de alguns membros da igreja, especialmente da
direção da AG. Como distrital da Associação na Pensilvânia em agosto de 1982, os
dirigentes da AG exigiram que eu me retratasse de tudo o que disse no livreto e
depois sofresse a devida punição por tê-lo escrito. Pedi que mostrassem o meu erro e
assegurei-lhes que me retrataria do que eu tinha escrito se me pudessem mostrar a
discordância da Bíblia e dos Testemunhos. Somente um irmão tentou mostrar-me um
erro. O que ele considerava incorreto, na realidade nada mais era do que uma
paráfrase de vários textos bíblicos.
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De agosto até dezembro daquele ano, orei e estudei muito. Comecei a
reexaminar algumas das diferenças entre os ensinos do Movimento e os da IASD.
Convenci-me de que, quando as diferenças doutrinárias são estudadas sem
preconceito, aceitando-se apenas o que está escrito na Palavra de Deus, os ensinos da
IASD são mais corretos.
Separação
Ainda não era possível imaginar que o Movimento que eu tinha apoiado tão
vigorosamente não constituía o verdadeiro povo de Deus. Eu acreditava que eles se
tinham apenas desviado, mas que seriam chamados de volta pelo Senhor. Orei
ardentemente ao Senhor para que, se o Movimento da Reforma não fosse o povo de
Deus, Ele me mostrasse claramente pelo espírito revelado nas reuniões dos delegados
da União-Associação da Califórnia. A sessão iria ocorrer em dezembro. Pedi ao
Senhor que me revelasse pessoalmente a verdadeira natureza do movimento. Em todo
sentido possível, tentei trabalhar pela paz nessas reuniões sem sacrificar princípios.
O Senhor me fez ver com muita clareza que havia um espírito falso e satânico
na reunião. Havia um espírito que eu jamais tinha observado antes. Em dado
momento, saí da reunião a fim de falar por um instante com o presidente da AG a
respeito de algumas preocupações que eu tinha, e dois delegados saíram gritando
como demônios, porque o seu caminho tinha sido cruzado. A essa altura, constatei
que minhas orações tinham sido respondidas. Precisamente como Martinho Lutero se
ergueu dos degraus da “escada de Pilatos” e saiu apressadamente de Roma (veja em
O Grande Conflito, 122), achei necessário retirar-me do Movimento da Reforma.
Ainda assim, recebi repetidos apelos para permanecer como pastor da Igreja da
Reforma no distrito de Denver, Colorado.
Em dezembro de 1982, minha esposa e eu renunciamos a todo cargo no
Movimento, como fizeram vários outros obreiros da União Americana. Isto foi um
ato de fé da nossa parte, e foi feito contra o conselho de amigos. Minha querida
esposa, que permaneceu fielmente ao meu lado ao longo de toda esta agitação, tinha
ocupado a importante posição de coordenar a casa publicadora da União Americana.
Nossos amigos nos aconselharam a continuar no Movimento, embora não
crêssemos que ele era o povo de Deus, até que pudéssemos achar outro emprego. Isto
não podíamos fazer conscienciosamente. Sendo que não podíamos mais pagar um
dízimo fiel a tal organização, também não podíamos aceitar pagamento proveniente
de dízimos. Louvado seja o Senhor que cuidou de nós durante aqueles primeiros
meses probantes! Ele nunca permitiu que passássemos fome, apesar de seis meses
sem nenhuma renda.
Depois de romper o emprego com o Movimento, comecei a estudar
resolutamente, recapitulando em detalhes a diferença entre os ensinos da Reforma e
os da IASD. Percebi que outros no Movimento ainda me estavam procurando, em
busca de orientação espiritual. Meus estudos eram agora conduzidos de um modo
diferente de outrora. Como reformista, eu ia à Palavra de Deus com o desejo de
provar que minha posição era correta. Agora eu recorria à Palavra, pedindo ao Senhor
que removesse todas as minhas idéias preconcebidas e me revelasse Sua verdade. Isto
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me levou à percepção de que os ensinos da IASD, contra os quais eu havia lutado
todos aqueles anos, eram corretos, e os meus conceitos anteriores, falsos.
Minha mente, porém, achava difícil vencer a doutrinação de muitos anos contra
a Igreja Adventista. Como reformistas, víamos a IASD como estando em uma
“terrível condição de apostasia”. Agora eu queria saber como os ensinos da IASD
eram postos em prática.
Comecei a visitar a IASD de Littleton, Colorado. O que eu testemunhei ali me
convenceu de que desde a infância eu havia sido grandemente iludido quanto a este
movimento que Deus chamou a fim de dar Sua mensagem para os últimos dias.
Percebi que esse era o lugar para onde o Senhor desejava conduzir-me. Ele operou de
tal maneira que minha esposa e filhos também começaram a visitar a IASD. Logo,
toda a família era aceita como membros. Enquanto minha esposa e eu estudávamos as
“Crenças Fundamentais” adventistas, descobrimos a verdade na qual havíamos
acreditado por anos.
Devido ao amor e consideração de alguns pastores e dirigentes da IASD, recebi
mais uma vez a oportunidade de trabalhar para o Senhor em regime de tempo
integral. Nunca deixei de me maravilhar ante a amorosa aceitação a nós mostrada, exinimigos
da causa do Senhor. Nunca nos fizeram sentir como inimigos, ou de algum
modo desprezados ou criticados.
...
Incentivo àqueles que venham a ler esta experiência que, se ainda estiverem ao
pé do Sinai (no legalismo da Reforma), façam a viagem ao Calvário. O Senhor vos
guiará nesta jornada, assim como fez comigo. Desprendei-vos dos grilhões do
legalismo e descobri a verdadeira alegria de servir ao Senhor!”
HELMUT H. KREMER
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